Por - Lúcia Palazzo
Narcisismo é um conceito psicanalítico muito rico para nos ajudar a entender as vicissitudes humanas.
Existem dois tipos de narcisismo, aquele tipo fundamental para a constituição do sujeito, que é estruturante para o desenvolvimento e sobrevivência psíquica,
quando a pessoa toma a si mesmo como objeto de cuidado e amor.
E o narcisismo patológico, cujo investimento amoroso voltado para si, aprisiona o indivíduo, sendo uma defesa contra a dor mental originada nas situações de grave risco emocional.
Tal e qual o mito de Narciso, que, ao ver a sua face refletida, apaixona-se pela sua própria imagem, sucumbindo à atração fatal de um suposto outro.
Se refletirmos sobre o ambiente que nos cerca, veremos que vivemos em um mundo que favorece a emergência deste tipo de condição mental,
individualista e solitária, uma vez que encastela as pessoas na arrogância do “eu me basto”.
Atualmente, as pessoas têm dificuldades em se relacionar, seja por falta de tempo, por medo do encontro amoroso, da dependência,
de sentir falta do outro, de viver a intimidade, de sofrer desilusões, de suportar as diferenças, e até mesmo medo de amar.
A escolha por uma vida isolada, voltada só para interesses pessoais, em detrimento da valorização da experiência emocional e da troca afetiva,
implica adoecimento do ser humano.
São escolhas narcísicas em alta na nossa sociedade, cujo mercado empurra as pessoas a preocuparem-se somente com a corrida do melhor desempenho e competitividade,
priorizando a sobrevivência e a autoproteção como preocupações primárias.
Somente em ambientes sociais onde há garantias de reconhecimento, respeito, segurança, e onde as necessidades básicas são atendidas,
é que se torna possível criar espaço para desenvolvimento de laços fraternos, solidários e relações emocionais satisfatórias.
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